quarta-feira, 5 de setembro de 2012

1980, 2003 e 2012


Dias atrás eu estava lendo as notícias do julgamento do Mensalão e passou um filme na cabeça. Lembrei dos anos em que gerações de mulheres e homens lutaram para a construção do PT, da CUT e da figura de Lula como referências políticas. Lembrei de como entrei para a militância, naquele agitado final da década de 70. Mais especificamente de 1980, quando eu cursava mestrado no ITA e regressei à UFPA, entrando de cabeça na primeira greve de docentes universitários depois de muitos anos. Tive sorte, participei de um processo vivo que a cada dia contagiava as pessoas. Dali para meu ingresso na construção do PT, da CUT e da Convergência Socialista – tendência interna do PT da qual eu fiz parte – foi tão rápido que eu nem me dei conta. Foi tanta luta nesse início de década que o mestrado em energia solar acabou indo pro espaço.
Os sindicalistas que chegaram ao poder – metalúrgicos, bancários, químicos, petroquímicos, etc. - lideranças populares e estudantis, hoje são julgados por crimes parecidos com aqueles que nos fizeram, a mim e a eles, entrar na política.
Lembrei também daqueles decisivos meses iniciais do ano de 2003, quando enfim um operário assumia a presidência do Brasil. Quando entramos, mais ainda, em rota de colisão com a direção do PT e também do Planalto (por conta da nomeação do Meireles para o Banco Central, pela indicação de Sarney para a presidência do Senado e, principalmente, pela Reforma da Previdência) quando várias pessoas me abordavam e diziam: “Pondere Babá, pega mais leve. Gosto muito de você, mas você vai fazer um péssimo negócio em enfrentar a direção do PT, vais ficar sem mandato!” e outras coisas do gênero. Vale ressaltar que em nenhum momento tive dúvida de que fizemos a coisa certa, mas hoje, nestes dias especialmente, a certeza é maior ainda, pois vejo pares de partido como Chico Alencar figurando entre os melhores parlamentares do país (é a 4ª vez seguida que o Chico ganha esse prêmio. No PSOL a gente brinca dizendo que a concorrência não é muito grande) e vejo ao mesmo tempo a que ponto o PT – e aqueles dirigentes que nos expulsaram (José Dirceu, Genoíno, Delúbio Soares, etc) – chegaram. Eles que mandaram a mim, Heloísa Helena, Luciana Genro e João fontes para a comissão de ética do PT hoje sendo julgados, tem uma força simbólica muito grande. Ver o PT como vice na chapa de Eduardo Paes, também.
Para as novas gerações, que cresceram com Lula na presidência, é difícil ou quase impossível imaginar o que o PT significava. Todo mundo que era contra as injustiças e que queria mudar radicalmente a sociedade era petista, filiados ou não. Era algo de massas, espontâneo e contagiante. Hoje eles estão na presidência, mas não tomaram o poder, pelo contrário, o poder os tomou.
Nestes meses de 2012, a história parece ter recomeçado para muitas outras pessoas. Parece-me que um ciclo se fechou, chegou ao fim, e que outro está começando. Estou falando da multidão de jovens que hoje constroem uma tal de “Primavera Carioca”, com mobilizações, passeatas, greves e na campanha Marcelo Freixo Prefeito. Penso em como muitos deles estão tomando decisões e fazendo ações que mudarão o resto das suas vidas, como a minha mudou naquele 1980. Para completar, assim que eu retorno do parlamento e concluo meu mestrado – desta vez mudando das engenharias para o planejamento urbano no IPPUR – pego de cara a greve docente mais forte dos últimos 20 anos. Entrei de cara nela como foi 32 anos atrás.
Estou feliz porque eu e um monte de gente tomamos a decisão certa. Fico em campanha e no aguardo do resultado das eleições, ansioso para concluir minha transferência para a UFRJ. Politicamente já o fiz, integrando um comando de greve e depois de tanto tempo reaprendendo com valorosos companheiros a ser grevista, e não apenas a apoiar as greves como fiz intensamente nos 18 anos em que fui parlamentar.
Não fico feliz que aquela experiência fantástica – o PT – tenha acabado como está acabando. Pelo contrário, é triste ver que hoje o principal partido do regime é justamente o que era o principal temor do regime dos ricos. Mas me sinto muito bem em não ter desistido e estar tentando mais uma vez. Em 2004 vim para o Rio ajudar na construção deste pequeno, mas intrépido PSOL. Pequeno no tamanho da bancada parlamentar, mas grande na ousadia.
A cada dia uma nova história começa. Aprender com erros do passado, ter humildade, paciência e, sobretudo, confiança. A vida vai mudar pra melhor. A juventude e a classe trabalhadora estão despertando em todos os lugares do mundo e aqui também. Esses anos de chumbo que nos acometeram na última década, vão acabar. A campanha do Marcelo Freixo é muito mais que uma campanha eleitoral, é uma virada de página na vida política do Rio e até mesmo do país.
Só mais uma coisa: vai ter segundo turno!

Babá

Um comentário:

  1. Excelente texto porque fala com verdade. Em meu pouco tempo de vida (até agora...pelo amor de deus quero chegar aos 100 anos), aprendi que às vezes uma conquista não é feita com uma vitória. Independente do resultado das urnas para vereador e prefeito do Rio, muito já foi conquistado por vocês. Parabéns pela luta e pelos passos dados, não importando o que outubro nos traga. Renato Brito Araújo

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