Estamos frente a um momento crítico da situação
política nacional. Uma onda de greves reclamando salário, plano de carreira e
condições de trabalho sacode o país de norte a sul, tendo na vanguarda os
servidores públicos federais. No entanto, também são parte da luta
trabalhadores da iniciativa privada como os caminhoneiros, motoqueiros, da GM
ou da construção civil, enquanto se preparam as campanhas salariais de petroleiros,
bancários, correios, químicos, entre outros.
O governo Dilma, que alardeava que a crise não
chegaria nunca ao Brasil, agora reconhece que está instalada. E como todos os
governos que respondem aos interesses dos ricos e poderosos, pretende que a crise,
criada pelo capital, seja paga pelos trabalhadores que não tem absolutamente
nenhuma responsabilidade.
Somado a isso, em plena campanha eleitoral, o
processo do mensalão volta a exibir as entranhas podres do sistema e dos
políticos corruptos, neste caso os do PT - mas também o são os partidos da base
governista, os tucanos, os do PP e do DEM, que utilizam dinheiro publico para
comprar votos e para o enriquecimento pessoal da absoluta maioria dos
políticos. Por isso, todos votam as medidas contra o povo, como a reforma da
previdência, os cortes de gastos nas áreas sociais e o orçamento, que destina
quase a metade para pagar juros aos agiotas do sistema financeiro. O mesmo é
visto no esquema DELTA-Cachoeira, Parceria Público-Privada organizada para
beneficiar Dilma e os governadores do PMDB (RJ), PSDB (GO) e PT (DF), além de
parlamentares do DEM, dentre outras siglas.
As centrais sindicais
protegem o governo
São mais de três meses que as greves não param. Em
Julho a CUT realizou seu 11º Congresso que passou despercebido para os milhares
de grevistas, e dando as costas para estes, os dirigentes da Central governista
dedicaram-se a defender Dirceu e Delúbio, réus do mensalão, aclamados como
heróis no Evento.
Agora, finalmente, juntaram-se as cinco centrais,
todas governistas – CUT, CTB (PCdoB) FS (PDT) CGT e Nova Central, e seus
dirigentes declararam “solidariedade com as greves”! Mas o que precisam os
trabalhadores é de muito mais que uma simples declaração de solidariedade, que
na verdade é uma manobra para tentar se re-localizar!
As centenas de milhares que lutam pelo país afora
não tem nenhuma referência na CUT nem nas centrais pelegas! Pelo contrário, na
imensa maioria dos casos, foram as bases, novos lutadores e novas gerações que
saíram a lutar contra a vontade dos dirigentes, em alguns casos impondo que os
próprios burocratas tivessem que decretar paralisações, pois do contrário...
Aconteceriam de qualquer forma!
A proposta de governo
de mísero aumento parcelado é uma vergonha!
Com a intermediação das centrais governistas o
governo Dilma oferece como “última proposta” míseros 15% de aumento em 3 anos:
5% em 2012, 5% em 2014 e 5% em 2015. Com esta manobra, além de não repor sequer
a inflação que já supera os 6%, tenta conter o movimento para que não lute nos
próximos 3 anos, como vergonhosamente já fizeram tempos atrás na CONDSEF entre 2008
e 2010. O mesmo acordo que impuseram nos correios há dois anos, rejeitado por
toda a base! Este acordo vergonhoso está sendo rejeitado por amplos setores dos
trabalhadores que estão realizando suas assembléias. Infelizmente, a direção
governista da Fasubra, com o apoio das correntes da esquerda como a Conlutas e INTERSINDICAL,
apoia e defende este acordo vergonhoso, o que indica o caminho que estas
correntes vão defender nas próximas assembleias.
Enquanto tenta controlar o movimento, o governo
Dilma, além das habituais concessões aos banqueiros, às multinacionais, as
empreiteiras e ao agronegócio, que são os que bancam suas campanhas eleitorais,
acaba de anunciar um plano de privatizações de estradas, ferrovias e portos que
entregará para a iniciativa privada lucrar, mas cujos investimentos serão
feitos com dinheiro publico do BNDES! Não por acaso o mega empresário Eike
Batista, cuja fortuna cresceu de forma estrondosa à sombra dos governos
petistas, declarou que o pacote anunciado por Dilma era um “kit de felicidade”!
Isto demonstra que dinheiro há! Bastaria com acabar
com as isenções fiscais, os “kits felicidade” para empresários corruptos e desconhecer
o pagamento dos juros da dívida pública usurária para garantir um nível decente
de salários, e os necessários investimentos em educação e saúde publica, na
segurança, em planos de moradia e em proteção ao meio ambiente.
Há outro caminho a seguir:
Unificar as lutas e construir uma greve geral
Está demonstrado que sobra a vontade e a decisão de
luta do povo trabalhador. O que falta são direções dispostas e defender seus
interesses de forma consequente.
Os últimos três meses representam um marco histórico, pois mostrou que
em nosso país está colocada a necessidade e possibilidade da unificação das
lutas, começando pelo setor público, e sua coordenação com o setor privado, o
que levaria a começar a trilhar o caminho da construção de uma greve geral.
Mas, os mesmos setores que se negaram a unificar,
são agora vanguarda em querer suspender a greve do funcionalismo público!
O governo Dilma, entre a crise da economia, o
julgamento do mensalão e as greves, sofre um importante desgaste. Trata-se de
uma visão errada a da “fortaleza do governo Dilma” medida somente a partir de
seu índice de aceitação nas pesquisas. Pois o fato marcante é que nem ela, nem
o PT, nem Lula nem a CUT conseguiram evitar o generalizado processo de greves
que, furando o bloqueio das direções, se impôs pela força da base.
As greves no funcionalismo não acabaram. E se
aproximam as campanhas salariais de petroleiros, bancários, correios, químicos.
É urgente que os lutadores classistas e combativos tirem conclusões e se
preparem para estas batalhas, formando comandos de greve que imponham a vontade
da base, que se coordenem os diferentes movimentos para construir e exigir uma
jornada unificada de lutas de todos os setores, para exigir do governo o
aumento salarial, o plano de carreira e as condições de trabalho reivindicados
nas lutas.
Esta será a forma de derrotar o governo: através da
construção de uma poderosa greve geral, que imponha o fim desta política
econômica com a suspensão do pagamento dos juros da dívida pública, que acabem
as isenções ao capital, que outorgue as reivindicações aos trabalhadores e que
invista nas áreas sociais como saúde, educação, segurança e moradia. Dessa
forma, serão os ricos os que pagarão pela crise que eles provocaram, acabando
de vez com a política criminosa de penalizar o povo por uma crise que não é de
sua responsabilidade.
Além da organização e da luta, que sempre são
necessários, os grevistas e ativistas do movimento social, devem refletir sobre
o processo eleitoral. É necessário derrotar os partidos que aplicam e apóiam a
atual política econômica que penaliza os trabalhadores, além dos políticos e
das empresas que sustentam essa falsa democracia corrupta que não nos
representa. Devemos mudar os atuais governantes e eleger parlamentares
lutadores e coerentes. O caminho passa por fortalecer a mobilização e, em
outubro, votar no PSOL.
Rio de Janeiro, 20 de agosto de 2012
Babá - Direção Nacional
do PSOL, professor da UFRJ, integrante do comando de greve docente.
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